[ONLINE] Universidade de Aveiro, Portugal

21, 22 e 23 de outubro de 2020

Um Corpo Para Dandara – Denúncias de transfeminicídio no Brasil por meio de Programas Performativos

Levi Muniz

Quantas de nós mortas ao atravessarmos à rua em uma quinta-feira pela tarde? Quais de nós viveremos até adentrar os trinta anos? Dandara andava pelas ruas em 2017: hoje, não anda mais. O Brasil é o País que mais mata pessoas trans no mundo (ANTRA, 2018). O corpo e a existência transgênera/travestis são um dos marcadores alvo para a violência e subalternização de nossa vida (MOMBAÇA, 2016). Nessa apresentação, lidamos com a apresentação de uma série de programas performativos (FABIÃO, 2013) disparados a partir da morte de Dandara Kettley, morta em Fortaleza/CE em 15 de fevereiro de 2017. As ações, protagonizados por uma travesti artista fortalezense, consistem em iniciativas de contato com a cidade como forma de denúncia ao nosso extermínio. Nesse sentido, apresentam-se aqui amostras mixadas de três ações: “Dandara Vive”, programa no qual a performer, acompanhada de uma ou duas pessoas, dispõe capacetes pelo espaço, inscritos com o nome de travestis assassinadas. Após isso, traz um carrinho de mão com tijolos dentro e oferece aos presentes para que joguem nos tijolos, assumindo assim que a cidade matou e mata pessoas trans diariamente. Esse primeiro programa será partilhado por meio de fotografias impressas e expostas ao público no chão, bem como do vídeo da ação pelas cidades de Fortaleza/₢E. A segunda ação, “Travestis engolirão ao Mundo”, consiste em uma cena performativa que trilha uma dramaturgia controversa: em meio a músicas dançantes cantadas por pessoas trans brasileiras, a performer distribue manchetes de notícias de travestis assassinadas. Após isso, revela duas facas que carrega dentro de seu vestido. Corta o seu corpo com as facas e, no final, lê o texto “Travestis engolirão o Mundo”. A partilha da segunda ação se dará por meio do áudio do texto homônimo, publicado em 2017 na I Coletânea LGBT do Ceará. A terceira performance que compõe a pesquisa chama-se “Dandara come Beterrabas”. Nessa iniciativa, a performer se instala em uma cadeira ou senta-se suspensa em uma estrutura alta e visível do espaço. Dispõe uma bandeira trans em suas pernas e, com um ralador, consome beterrabas em cima de sua cabeça, fazendo jorrar o sumo delas em seu corpo. Aqui propomos um fragmento da ação ao vivo, por tempo determinado, na qual a performer, adereçada com um vestido vermelho e um gigante bandeira trans entre suas pernas, rala beterrabas em cima de sua cabeça e espreme o suco do material ralado em seu corpo. As fotos, o áudio e o fragmento da ação compõe essa apresentação performativa, feitos de maneira concomitante. Sugerimos aqui uma proposta submetodológica indisciplinada (MOMBAÇA, 2016b), na qual reentendemos o fazer artístico e pesquisador pela pulsão da vivência subalternizada, procurando outras vias e caminhos mais tortuosos para a ação performativa. Para Mombaça, precisamos escavar as trajetórias proibidas e repelidas dentro do espaço acadêmico, fazendo urgir novas existências para dentro da Universidade e na invenção de conhecimento. Os três programas referidos, para a autora, formam uma rede que ela propõe ser intitulada de teia – proposição esta que compõe uma antimetodologia (FERNANDES, 2018) que busca cunhar em sua pesquisa de Mestrado. Essa teia, pois, apresenta-se como “Um corpo para Dandara”, ao mesmo tempo abordagem de pesquisa, denúncia de violência e homenagem às travestis e seres trans que resistem ao extermínio dos tempos que aqui vivemos.

Palavras-chave: Performance transgênera; Extermínio travest; Existência trans; Violência de gênero; Insurgência trans