[ONLINE] Universidade de Aveiro, Portugal

21, 22 e 23 de outubro de 2020

Género e Idade: des/re/construções concetuais para uma Prática Psicológica Crítica

Teresa Teixeira
Nuno Santos Carneiro
Conceição Nogueira

No presente trabalho pretende-se refletir sobre as insuficiências de uma prática psicológica mainstream afirmativa partindo de reflexões emergentes da problematização de necessidades e re/construções em torno de uma população desafiante das categorias psicológicas mais basilares: a idade e o género. Partimos de um posicionamento epistémico crítico e interseccional, em que o que se privilegia é uma construção queer, sempre contrária a qualquer categoria. 

Pessoas não-binárias de género transgridem o género, a sexualidade e os dualismos através dos quais se pressupõe que significamos os nossos corpos e a nossa humanidade. A idade, tal como o género, des/constrói-se e reconstrói-se performativamente, como ficção discursiva, política e cultural situada em jogos específicos de saber-poder. Estas categorias basilares da conceção humana são construídas através de rituais linguísticos, reiterações e recitações que informam a noção de verdade inquestionável. Abre-se assim espaço para a construção de normas e para a regulação social e política desses corpos genderizados e ditos idosos/velhos.

Realizou-se uma entrevista a uma pessoa não-binária de género com cerca de 60 anos, seguindo-se da análise temática (Braun e Clarke 2006) dos dados recolhidos. Os temas emergentes refletem conceções múltiplas e fluídas de género. A análise crítica do conceito de género, tendo por base as noções trazidas pelo testemunho da pessoa entrevistada (e na articulação estreita com o que são as propostas da nossa abordagem teórica), leva-nos a importantes reflexões sobre como desconstruir os atuais discursos e práticas assentes no binarismo de género. Levando-nos a considerar a in/adequação de determinadas práticas psicológicas afirmativas, que pressupõe a existência de categorias de identidade rígidas.

Urge impedir simplificações abusivas do que o género ou a idade podem significar, pois tratam-se de conceitos capazes de complexificar a experiência humana. É necessária assim uma prática que se confronte com o dilema de afirmar e desconstruir identidades simultaneamente. Reconhecendo que a única categoria para uma psicoterapia afirmativa crítica é a categoria de recusa, em que aceitamos o provisório das certezas, pois o provisório é a única permanência.

Palavras-chave: idade; género; não-binarismo; estudos queer; psicologia crítica