[ONLINE] Universidade de Aveiro, Portugal

21, 22 e 23 de outubro de 2020

Currículo e Gênero: Construção das Masculinidades de Jovens no Contexto Escolar

Marie Luce Tavares
Adriano Gonçalves da Silva
Arthur Cardoso Lana
Ulisses Expedito Pereira Teodoro das Dores

Ao se esforçar por ser, de direito, o instrumento pelo qual os sujeitos podem ter acesso a qualquer tipo de discurso, a educação, e neste caso, a escola, imprime marcas do que ela permite e do que ela impede, balizando suas linhas/limites pelas distâncias, as oposições e as lutas sociais. Assim, todo sistema educacional é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles comportam. Reforça-se ainda que a juventude, enquanto fase e condição, é caracterizada por intensas transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. Os jovens constroem a sua identidade, descobrindo e vivenciando o que é ser e sentir-se jovem, em meio a demandas sociais, geográficas, culturais e diversas novas experiências em relação ao gênero e à sexualidade. Neste sentido, falar sobre as masculinidades perpassa questões urgentes que nossa sociedade precisa endereçar, como, por exemplo, o modo como a construção social das masculinidades tem condicionado o percurso escolar dos jovens. A instituição escolar é estruturada em bases hierárquicas de poder, local onde jovens relacionam-se cotidianamente, onde identidades, notadamente as de gênero, são construídas, reforçadas e sedimentadas. Nesse sentido, este trabalho apresenta um recorte da pesquisa realizada em uma escola de educação profissional e tecnológica que propõe analisar a construção sobre as masculinidades no discurso de jovens-estudantes do Ensino Médio Integrado, identificando o modo como interpretam, contestam e/ou negociam os valores da masculinidade hegemônica. Assim, buscamos discutir a construção sobre as masculinidades e sua relação com o contexto escolar nos discursos presentes nas primeiras narrativas dos jovens-estudantes. Estas narrativas, ao ordenar e atribuir sentidos aos acontecimentos, permitem aos narradores a atribuição de significados às suas experiências, constituindo-se como uma forma discursiva privilegiada para a compreensão das interpretações dos sujeitos sobre si mesmos e sobre a construção de suas masculinidades, numa possível invenção de si. Aproximando das formulações mais críticas dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais; compreendemos os sujeitos como tendo identidades plurais, múltiplas; identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem, até mesmo, ser contraditórias. Para tanto, buscamos suporte nas teorias pós-críticas na área da Educação, especificamente na discussão de currículo, que tem o ‘poder’ como a questão central. Desestabilizando assim, a noção de currículo como um conhecimento selecionado a partir de uma cultura mais ampla para ser ensinado a todos, e considerando a política de currículo como um processo de invenção do próprio currículo, um processo de invenção do sujeito. Enfatiza-se que as construções acerca das masculinidades estão relacionadas às experiências de vida dos jovens, sendo imprescindível o diálogo e a participação ativa das/dos educadoras/es. No que se refere às relações de gênero, a escola tem um enorme desafio pela frente. A construção das masculinidades na juventude abarca uma série de espaços simbólicos que mediam a formação identitária do homem sob moldes, atribuições e funções cultural e socialmente definidas. Considerando esse aspecto e contexto escolar, o desenvolvimento de estudos direcionados ao modo como as compreensões relacionadas às masculinidades são estabelecidas e valorizadas e como podem impactar auxiliam no desenho de políticas educacionais e na forma de organização do espaço e do cotidiano na escola. Entendemos a importância da escola em reaver estes “papéis”, “normas”, “códigos de significados”, considerando o contexto escolar como lócus em que estes corpos irão se configurar.

Palavras-chave: Gênero; Masculinidades; Currículo; Escola; Apropriações Identitárias.