Marie Luce Tavares
Adriano Gonçalves da Silva
Arthur Cardoso Lana
Ulisses Expedito Pereira Teodoro das Dores
Ao se esforçar por ser, de direito, o instrumento pelo qual os sujeitos podem ter acesso a qualquer tipo de discurso, a educação, e neste caso, a escola, imprime marcas do que ela permite e do que ela impede, balizando suas linhas/limites pelas distâncias, as oposições e as lutas sociais. Assim, todo sistema educacional é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles comportam. Reforça-se ainda que a juventude, enquanto fase e condição, é caracterizada por intensas transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. Os jovens constroem a sua identidade, descobrindo e vivenciando o que é ser e sentir-se jovem, em meio a demandas sociais, geográficas, culturais e diversas novas experiências em relação ao gênero e à sexualidade. Neste sentido, falar sobre as masculinidades perpassa questões urgentes que nossa sociedade precisa endereçar, como, por exemplo, o modo como a construção social das masculinidades tem condicionado o percurso escolar dos jovens. A instituição escolar é estruturada em bases hierárquicas de poder, local onde jovens relacionam-se cotidianamente, onde identidades, notadamente as de gênero, são construídas, reforçadas e sedimentadas. Nesse sentido, este trabalho apresenta um recorte da pesquisa realizada em uma escola de educação profissional e tecnológica que propõe analisar a construção sobre as masculinidades no discurso de jovens-estudantes do Ensino Médio Integrado, identificando o modo como interpretam, contestam e/ou negociam os valores da masculinidade hegemônica. Assim, buscamos discutir a construção sobre as masculinidades e sua relação com o contexto escolar nos discursos presentes nas primeiras narrativas dos jovens-estudantes. Estas narrativas, ao ordenar e atribuir sentidos aos acontecimentos, permitem aos narradores a atribuição de significados às suas experiências, constituindo-se como uma forma discursiva privilegiada para a compreensão das interpretações dos sujeitos sobre si mesmos e sobre a construção de suas masculinidades, numa possível invenção de si. Aproximando das formulações mais críticas dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais; compreendemos os sujeitos como tendo identidades plurais, múltiplas; identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem, até mesmo, ser contraditórias. Para tanto, buscamos suporte nas teorias pós-críticas na área da Educação, especificamente na discussão de currículo, que tem o ‘poder’ como a questão central. Desestabilizando assim, a noção de currículo como um conhecimento selecionado a partir de uma cultura mais ampla para ser ensinado a todos, e considerando a política de currículo como um processo de invenção do próprio currículo, um processo de invenção do sujeito. Enfatiza-se que as construções acerca das masculinidades estão relacionadas às experiências de vida dos jovens, sendo imprescindível o diálogo e a participação ativa das/dos educadoras/es. No que se refere às relações de gênero, a escola tem um enorme desafio pela frente. A construção das masculinidades na juventude abarca uma série de espaços simbólicos que mediam a formação identitária do homem sob moldes, atribuições e funções cultural e socialmente definidas. Considerando esse aspecto e contexto escolar, o desenvolvimento de estudos direcionados ao modo como as compreensões relacionadas às masculinidades são estabelecidas e valorizadas e como podem impactar auxiliam no desenho de políticas educacionais e na forma de organização do espaço e do cotidiano na escola. Entendemos a importância da escola em reaver estes “papéis”, “normas”, “códigos de significados”, considerando o contexto escolar como lócus em que estes corpos irão se configurar.
Palavras-chave: Gênero; Masculinidades; Currículo; Escola; Apropriações Identitárias.