Amanda C. Figueredo
A pesquisa apresentada é parte de um conjunto maior de estudos envolvidos na dissertação de mestrado em andamento cuja temática gira em torno da recepção teatral do espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, realizado no ano de 2018 durante um evento promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina. Aqui serão relatadas algumas das percepções obtidas e analisadas após minha experiência subjetiva de expectação da montagem teatral – que levou a atriz travesti, Renata Carvalho, a interpretar a personagem Jesus como a filha de Deus. Na análise, ressalto o valor do acontecimento teatral produzido pela obra, como o teoriza Jorge Dubatti, considerando o encontro dos corpos poéticos e dos que assistem a este poético, da mise-em-scène à plateia, ambos em presença e em relação; mas também evidencio o acontecimento na medida da sua capacidade de romper com o estado de normalidade das coisas e abrir o horizonte com novas possibilidades de práticas políticas no mundo, assim como o entende Alain Badiou. As duas qualidades de acontecimento me atravessaram durante a encenação e pude, somente através deste contato, confrontar minha realidade de mulher cisgênera e minha leitura cisgênera da sociedade, portanto, fixa e excludente, com as questões levantadas pelo Evangelho Travesti, como a ausência das corpas trans nos palcos brasileiros e a necessidade da representatividade destas corpas em todos os equipamentos da cultura. O objetivo aqui é o de traçar paralelos entre o acontecimento e a potência trans quando representam a si próprias na arte teatral, pois a representatividade, segundo o MONART (Movimento Nacional de Artistas Trans) é o “ato de estar presente” e por meio da criação de condições para esta presença é que estas corpas poderão ser vistas sem serem violentadas em seu direito de ir e vir, ocupando o lugar de cidadania e reconhecimento de suas identidades no Brasil.
Palavras-chave: Encenação teatral; recepção; acontecimento; representatividade transgênere.