Elayne Esmeraldo Nogueira
Elsa Simões
Ana Sani
De acordo com Cook (2001), a publicidade é uma das produções de comunicação social mais controversas da atualidade em parte por ser uma forma midiática relativamente nova, e em parte por ser associada à alta competitividade do mundo capitalista, sendo ainda vista como responsável pelo crescimento da competitividade da economia de mercado global. O autor refere que a publicidade gera sentimentos controversos porque ao mesmo tempo que suas produções podem ser consideradas divertidas e inteligentes, são frequententemente associadas aos problemas decorrentes do avanço e das mudanças econômicas. O crescimento económico é, frequentemente, associado ao crescimento do consumo, que segundo alguns autores (i.e Altstiel, Grow, & Jennings, 2020; Thorson & Rodgers, 2012) pode potenciar processos e estados sociais antinormativos, expressáveis através de sentimentos de insatisfação ou inadequação, obesidade infantil, desvios comportamentais, consumo de substâncias psicotrópicas, dentre outros. A publicidade pode ser, quer um veículo promotor de uma ideologia de desvios, como os da cultura do consumo, da obesidade, da exclusão ou da violência, quer um mecanismo de desconstrução das relações de poder, das desigualdades sociais ou de processos simbólicos que transformados podem ampliar o conhecimento e produzir mudanças positivas para a sociedade. O objetivo do presente trabalho foi investigar a produção de campanhas publicitárias no combate à violência doméstica em Portugal, bem como analisar as campanhas produzidas por meio da análise do discurso. Cook (2001) afirma que o principal foco da análise do discurso é na linguagem, mas não está relacionado apenas à linguagem, mas também examina o contexto da publicidade: quem está anunciando, o que está a ser anunciado, a quem o anúncio é dirigido e o porquê do anúncio. Quais os meios de comunicação utilizados e o seu alcance? Além disso, imagens ou músicas utilizadas em uma campanha devem fazer parte da análise. O autor justifica essa análise ampla porque entende que atos de comunicação e mecanismos internos da linguagem não podem ser compreendidos separadamente. Assim, a análise do discurso compreende linguagem e contexto de modo holístico. As campanhas de publicidade institucional de combate à violência doméstica em Portugal são produzidas, em sua maioria, pelos órgãos governamentais CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, GNR – Guarda Nacional Republicana e pelo órgão não-governamental APAV – Associação de Proteção e Apoio à Vítima. Entretanto, nos últimos anos, a crescente presença do movimento feminista na mídia e o crescente consumo de produções midiáticas sobre o tema, além do surgimento de importantes manifestações, parece ter servido de contexto para o desenvolvimento de campanhas publicitárias no combate à violência doméstica por empresas que não tem relação direta com o tema, como a Revista Cristina em 2018, Vodafone, Avon, Meo, Josefinas Portugal no ano de 2019 e a Fox Portugal no ano de 2020. A maior parte dos anúncios ainda são direcionadas às vítimas, apesar de o crime ser público desde 2000, o que significa que não é preciso que seja a vítima a denunciar o crime.
Palavras-chave: publicidade, campanhas de publicidade institucional, violência doméstica