Helena Volani
Esta pesquisa se inicia a partir de uma aproximação com o trabalho do Dr. Jean-Martin Charcot sobre a histeria, cujas conceituação e difusão como patologia neurológica/psiquiátrica se dão em sua atuação dentro do Hospital da Salpêtrière. Assim, pretende-se refletir, aqui, como um médico que “acidentalmente” se torna responsável por uma ala inteira dentro do maior asilo para mulheres da França, a Salpêtrière, “ficou conhecido como o fundador da neurologia” (Didi-Huberman) e, a partir de então, de que maneira seu trabalho se dá, isto é, utilizando-se de quais métodos ele consolida sua prática. A essa pesquisa interessa Charcot pela manutenção da imagem criada por ele para a histeria, a partir do trabalho de hipnose, que continua atravessando os corpos mesmo muitos anos após sua morte e, portanto, sem a prática de seu método de trabalho. Não por acaso: para provar a intensidade da força com que essas imagens ainda penetram os corpos, sobretudo femininos, mesmo contemporaneamente – e como a reprodução dessas imagens (em telas, textos, fotografias ou na performance dos próprios corpos), promove a penetração dela em suas existências e em novos corpos, que são colonizados e povoados pela demonstração das formas possíveis e validadas para o sofrimento, cuja performance acaba se manifestando de forma que possa ser decodificada e acolhida por aqueles que rodeiam esses corpos, a partir de códigos de linguagens corporal, imagético e sonoro possíveis. Tais corpos não performam nem como atrizes que fingem ser Ofélia no palco, nem mais como as pacientes de Charcot, hipnotizadas; performam como todas as mulheres performam o seu gênero durante a vida, a partir de símbolos que serão reconhecidos, mas que não deixam de fazer parte de como aquele sujeito expressa a sua subjetividade.
Palavras-chave: Histeria; Charcot; Performatividade; Butler.